quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Cartas a um jovem poeta

Rilke é um dos meus escritores favoritos, no livro Cartas a um jovem poeta um rapaz está em crise vocacional não sabe se segue a carreira militar ou torna-se um poeta, começa a escrever cartas para Rilke pedindo auxilio.
 Este livro é mais que um “coach”, fala de busca, paciência, amor, verdade e vocação e o melhor não é um livro de “auto-ajuda”!rsrs

Partilho o meu trecho predileto!

 Cartas a um jovem poeta


"Nem tudo se pode saber ou dizer, como nos querem fazer acreditar. Quase tudo o que sucede é inexprimível e decorre num espaço que a palavra jamais alcançou.

O seu olhar está voltado para o exterior. Só existe um caminho: penetre em si mesmo e procure a necessidade que o faz escrever. Fale das suas tristezas e dos seus desejos, dos pensamentos que o tocam, da sua fé na beleza. Diga tudo com sinceridade e calma.

Se o quotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas.

E se vierem versos deste regresso a si próprio, deste mergulho no seu cosmo, não pensará em indagar se são bons ou ruins, porque desfrutará deles como de uma posse natural, como de uma de suas formas de vida e expressão. Mergulhe em si próprio e sonde as profundidades de onde jorra a sua vida. Talvez chegue à conclusão de que a Arte o chama. Pode suceder que, depois desta descida em si mesmo, ao âmago solitário de si mesmo, tenha de renunciar a ser poeta.

Não lhe seria possível perturbar mais violentamente a sua evolução do que dirigindo o seu olhar "para fora", do que esperando "de fora" as respostas que apenas o seu sentimento mais secreto, na hora mais silenciosa, poderá talvez proporcionar-lhe.

Os trabalhos de arte são de uma solidão infinita. Só o amor pode prendê-los, conservá-los, ser justo com eles. Dê sempre razão ao seu próprio sentimento,. Mesmo que se iluda, o desenvolvimento natural da sua vida interior conduzi-lo-á, aos poucos, com o tempo, a um outro estado de conhecimento. Deixe que os julgamentos tenham a sua evolução natural, silenciosa. Não se oponha a esta evolução que, como todo o aperfeiçoamento, deve vir do âmago do seu ser e não pode suportar coação nem pressa.

Ser artista não significa contar, é crescer como a árvore que não apressa a sua seiva e resiste, serena, aos grandes ventos da primavera, sem temer que o verão possa vir. Aprendo todos os dias a custa de sofrimentos que abençôo: a paciência é tudo.

Se estender o seu amor a tudo o que vive, então tudo lhe será mais fácil, tudo lhe parecerá mais harmonioso e, por assim dizer, mais repousante.

Esforce-se por amar as suas próprias dúvidas, como se cada uma delas fosse um quarto fechado, um livro escrito em idioma estrangeiro.

Um comentário:

  1. São coisas difíceis! Difíceis para se perceber no dia-a-dia, difíceis porque fazem-nos sair da zona de conforto. Difíceis porque nos fazem percerber o mundo sem estarmos sedados pela superficialidade da cultura e pensamento hegemonicos. Eu acho muito bonito este caminho, esta escolha de ser poeta...

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